ATA DA OCTOGÉSIMA SEGUNDA SESSÃO ORDINÁRIA DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA EM 21.08.1990.

 


Aos vinte e um dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Octogésima Segunda Sessão Ordinária da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e quinze minutos, tendo sido constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e determinou fossem distribuídas em avulsos cópias da Ata da Octogésima Primeira Sessão Ordinária, que deixou de ser votada face à inexistência de “quorum” deliberativo. À MESA foram encaminhados: pelo Ver. Antonio Hohlfeldt, 02 Pedidos de Providências; 01 Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 12/90 (Proc. nº 1688/90). Do EXPEDIENTE constaram os Ofícios nºs 513, 5l4 e 515/90, do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; Telegrama, do Senador Roberto Campos. Após, o Senhor Presidente informou que, segundo Requerimento, aprovado, de autoria do Ver. Wilson Santos, o período de Comunicações será destinado à homenagem póstuma ao Soldado PM Valdeci de Abreu Lopes. Às quatorze horas e dezoito minutos, os trabalhos foram suspensos nos termos do artigo 84, inciso II, do Regimento Interno e, às quatorze horas e vinte e cinco minutos, constatada a existência de “quorum”, foram reabertos. A seguir o Sr. Presidente solicitou aos Líderes de Bancada que conduzissem ao Plenário as autoridades e personalidades convidadas. Compuseram a Mesa: Vereador Valdir Fraga Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Coronel PM Carlos Walter Stocker, Comandante Geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul; Major PM Sérgio Cariboni da Costa, Representando o Comando do Policiamento da Capital; Capitão PM Vanderlei de Souza José, Ajudante de Ordem do Comandante Geral da Brigada Militar; Capitão Carlos Alberto dos Santos, Representando o Comando de Policiamento da Capital; Capitão Celmar Correa de Oliveira, Representando o Diretor de Apoio Logístico da Brigada Militar; Major Ludgero Frota, Representando o Chefe da Casa Militar do Estado do Rio Grande do Sul; e, Vereador Lauro Hagemann, lº Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em prosseguimento, o Sr. Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, lamentando os acontecimentos ocorridos entre os colonos “sem terra” e a Brigada Militar, que culminaram com a morte do Soldado PM Valdeci de Abreu Lopes, salientando que o referido se encontrava no “estrito cumprimento de seu dever”. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. João Dib, em nome das Bancadas do PDS e PFL, destacou a necessidade de segurança sentida pelo povo de Porto Alegre, lamentando que o Soldado PM Valdeci tenha sido “brutalmente chacinado”, em pleno exercício de seu dever. Apresentou, ainda, protótipo do monumento, idealizado pelo artista plástico José Antonio Russo, que o Partido de Sua Excelência pretende erigir em homenagem ao Soldado PM Valdeci. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB, afirmando que “nada justifica a violência que abateu a Cidade naquela quarta-feira e a morte do Praça no cumprimento do serviço”, lamentou o acontecido. Instou pela necessidade de se perquirir as causas mais profundas que originaram tais acontecimentos. O Ver. João Motta, em nome da Bancada do PT, referindo-se ao título I, artigos 1º e 2º da Constituição Nacional, criticou o pacote agrícola apresentado pelo Governo Federal, salientando que tal pacote não visa equacionar os problemas agrários do País. Manifestou-se solidário com a família enlutada do Soldado Valdeci e com a iniciativa do Ver. Wilson Santos. Defendeu que a segurança pública deve ser fundamentada na igualdade de direitos e livre cidadania. O Ver. Dilamar Machado, em nome da Bancada do PDT, lamentou a tragicidade dos acontecimentos que culminaram com a morte do servidor da Brigada Militar. Propugnou pelo melhor aparelhamento técnico e humano para a Brigada Militar e, em especial, melhores salários. Asseverou, ainda, que o povo e a Brigada Militar não devem se confrontar, mas caminhar lado a lado na construção de uma cidade mais humana. O Ver. Wilson Santos, como autor da proposição, e em nome das Bancadas do PL, PMDB e PTB, lamentando a morte, no exercício de suas atividades, do Soldado PM Valdeci, qualificou-o como “um humilde trabalhador, um operário em defesa da manutenção da lei”. Questionou os interesses que se escondem por detrás do movimento “colonos sem terra”; defendeu melhores condições e remuneração mais justa para os trabalhadores que cuidam da segurança púbica; salientou que o Soldado Valdeci “deu a morte e a vida pela segurança pública” e, lendo trecho da Bíblia, instou por uma revolução pacífica que modifique a atual situação da segurança pública no País. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Coronel PM Carlos Walter Stocker, Comandante Geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul que, em nome dessa Corporação, agradeceu as homenagens póstumas prestadas por esta Casa ao Soldado PM Valdeci de Abreu Lopes. Às quinze horas e vinte e dois minutos, o Sr. Presidente levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, lº Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE: Passamos às

 

COMUNICAÇÕES

 

Destinamos às Comunicações à homenagem póstuma ao soldado Valdeci Lopes. Vamos suspender os trabalhos por alguns minutos para compormos a Mesa.

 

(Suspendem-se os trabalhos às l4hl9min.)

 

O SR. PRESIDENTE (às 14h25min): Às Comunicações serão destinadas à homenagem póstuma ao PM Valdeci Lopes, requerido pelo Ver. Wilson Santos, aprovado por unanimidade por esta Casa.

À Mesa tomarão lugar os Senhores Coronel PM Carlos Walter Stocker, Comandante Geral da Brigada Militar do Rio Grande do Sul; Major PM Sérgio Cariboni da Costa, representando o Comando do Policiamento da Capital; Capitão PM Vanderlei de Souza José, Ajudante de Ordem do Comandante Geral da Brigada Militar; Capitão Carlos Alberto dos Santos, representando o Comando de Policiamento da Capital; Capitão Celmar Correa de Oliveira, representando o Diretor de Apoio Logístico da Brigada Militar; Major Ludgero Frota, representando o Chefe da Casa Militar do Estado do Rio Grande do Sul.

Já se passam treze dias do lamentável episódio ocorrido na Praça da Matriz, envolvendo colonos sem terra e policiais da Brigada Militar. Reunimo-nos, neste momento, para prestar nossa homenagem póstuma ao soldado PM Valdeci de Abreu Lopes, que morreu no estrito cumprimento do dever. O nosso reconhecimento ao homem, ao chefe de família e ao policial militar dedicado. Esperamos que daqui para a frente, semelhantes brutalidades não venham a se repetir em nosso meio.

Nossos sentimentos à Brigada Militar, aos familiares e aos amigos do inesquecível Valdeci de Abreu Lopes.

Com a palavra o Ver. João Dib, que falará em nome do PDS e PFL.

 

O SR. JOÃO DIB: Exmo Sr. Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara, meu caro Secretário Lauro Hagemann, Srs. Vereadores, Srs. policiais, meus senhores, minhas senhoras. Se perguntássemos para o povo de Porto Alegre, do Rio Grande, do Brasil qual a necessidade imediata a ser resolvida, tenho absoluta certeza de que teríamos como resposta, em primeiro lugar, a segurança, ainda que não caiba ao Município resolver problemas de segurança, nós representantes do povo da Capital, cada vez que visitamos uma coletividade, ouvimos essa necessidade do povo de Porto Alegre, de mais segurança. E quem nos dá essa segurança? Quem faz segurança ostensiva e que nos dá relativa tranqüilidade, que trabalha nas piores condições, trabalha sem apoio, apoio financeiro, técnico, mas tenta suprir tudo com o coração, com garra, com entusiasmo, com educação e dedicação, e, de repente, somos abalados tremendamente, porque um simples homem, um praça da Brigada Militar cumprindo o seu dever é chacinado de uma forma violenta e estúpida. Se ele estivesse no centro dos acontecimentos talvez tosse possível, até, entender. Mas ele não estava. Ele foi agredido e tinha que mostrar que o mais importante de qualquer coisa era preservar a autoridade, a autoridade não pode ser desmoralizada. No momento em que a autoridade se deixa desmoralizar, quer seja pelo Comandante Geral da Brigada Militar ou por um simples praça da Brigada Militar, nós terminamos com toda a nossa segurança porque qualquer um se achará com o direito de repetir a façanha. E aquele homem simples e jovem entendeu que ele tinha que preservar a autoridade de polícia, militar, no caso, mas se fosse civil ele faria a mesma coisa, ele tinha que preservar a farda gloriosa e naquele momento ele não era apenas um soldado, ele era a Corporação toda. Naquele momento ele representava toda uma coletividade que ganha mal, não tem armamento suficiente, não tem equipamento para se locomover com facilidade, com segurança, mas naquele momento ele não era mais um praça simples, que isoladamente fazia a sua vigilância, o seu reconhecimento, sua parte na segurança da Cidade. Naquele momento ele era toda a Brigada Militar porque não pode, por exemplo, bater na Câmara Municipal porque nós, Vereadores, representamos o povo e nós vamos brigar, vamos reclamar ou, então, sairemos daqui com a cabeça muito baixa e aquele soldado que deixou uma família, que deixou uma criança pequena, entendeu a responsabilidade que ele tinha: preservar a autoridade. Isso era essencial, era importante e por isso ele merece o nosso carinho, a nossa homenagem.

Estou falando, aqui, em nome da Bancada do PFL, do PDS, mas antes de vir a esta tribuna eu consultei outras Lideranças da Casa e a Bancada do PDS, logo após o acontecimento, havia proposto uma homenagem ao soldado morto Valdeci Lopes de Abreu. Homenagem que deveria ser estendida à Brigada Militar pelo tanto que tem feito para o Rio Grande, para a Capital e para toda as cidades do nosso Estado. A Brigada Militar que eu aprendi a admirar conhecendo uma figura que eu considero inesquecível, Coronel Ari Lampert, e através dele muitas vezes entrei nos quartéis do 9º BPM, do 1º, e também eventualmente lá no 11º BPM, mas muitas vezes mais no 9º BPM. Aprendi admirar, conhecer os comandantes do 9º BPM, conheci tantos policiais militares que foi sempre satisfação, como homem público, conviver no meio da tropa que realmente é disciplinada e que realmente faz um máximo de esforço para manter a segurança que nós precisamos. Então, a minha Bancada, a Bancada do PDS, se propôs a fazer um monumento singelo, monumento que não terá a expressão do bronze, que não terá a expressão no metal, mas que em lâminas de concreto deve expressar, pelo vazio do monumento, a ausência do soldado, o soldado Valdeci Lopes de Abreu na sua corporação, que estaria representada de um lado, e no outro lado a ausência do soldado nos contornos da sua Cidade. É uma homenagem que nós queremos prestar, singela eu disse, e foi idealizada pelo artista plástico José Antonio Russo, o mesmo que fez o monumento ao Papa, aqui na Esplanada do Vaticano, e também o monumento às mães lá no Largo da Rodoviária. Aqueles dois monumentos foram feitos como nós queremos fazer este, nós vamos pedir a brita, o concreto, a areia, o ferro, e juntos todos vamos fundir as placas, levantar no local que nós desejamos, que evidentemente dependerá da concordância da Prefeitura, que é o local onde tombou o Praça Valdeci Lopes de Abreu. E nisso, então, nós queremos, pelo vazio, representando a ausência, homenagear o Praça sacrificado e também a Corporação a que ele pertencia, e que, de maneira inusitada, ele soube defender, porque sabia, naquele momento, que ele não era uma soldado, mas que ele representava toda a corporação e a autoridade que cada um de vocês é obrigado a ter no exercício de suas funções. O nosso carinho à Brigada Militar, a nossa homenagem, do Partido da Frente Liberal e do PDS, de que nós queremos perpetuar no concreto. A todos os nossos cumprimentos. Muito obrigado

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, que fala pelo seu Partido, o PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal, Srs. Vereadores, Oficiais, Sargentos, Cabos, Soldados da PM, nada justifica a violência que se abateu sobre a Cidade naquela quarta-feira fatídica e muito menos a morte de um ser humano, um soldado que estava no desempenho de seu dever profissional. Nós lamentamos profundamente o sucedido e endereçamos à família enlutada os nossos sentimentos de solidariedade, mas também não se pode reagir somente com a emoção num momento como este, embora a emoção esteja presente em todos que assistem a esta Sessão. É preciso perquirir causas mais profundas que originam este tipo de acontecimento, porque se nós não nos conscientizarmos de que há valores em jogo e o valor mais alto é a vida humana - nós correremos o risco de, daqui a pouco, estarmos mergulhados numa situação da qual não podemos prever o fim. Muitos dos que aqui estão, e dos que compõem os quadros da Brigada Militar, são oriundos do campo; muitos vieram para a Cidade em busca de uma oportunidade e, entre tantas ocupações, uma delas pode ser a de soldado da Brigada Militar, de guardião da ordem. Por isso, eu me proponho a reflexionar em voz alta que uma das origens desse processo - e por isso eu pedi a atenção de todos, para que nós encontremos um paradeiro a esses acontecimentos - é o fato de que neste País a questão do campo está-se transformando, perigosamente, numa questão de polícia. A falta de uma política agrícola e de uma política agrária para este País pode, a partir desse episódio da quarta-feira da semana passada, originar uma série de desacertos em termos sociais, que vão pôr em risco não só a vida, a segurança da coletividade, como dos próprios membros da corporação. Nós não queremos isso, nós queremos a via pacífica para a solução desses problemas graves que assolam o País. E é preciso que entendamos, que se faça pressão, pressão ordeira, justa, natural, sobre quem detém o poder, para que se comece, para que se promova uma autêntica reforma no nosso campo produtivo, que é o setor agropastoril. É preciso que essas imensas legiões de trabalhadores sem terra tenham um canto onde exercer a sua atividade. E é por isso que eu não posso concordar com algumas expressões - felizmente raras - de que esses colonos que andam em busca de terra são um bando de facínoras. Pode haver algum mau elemento entre eles, como o há em qualquer aglomerado humano, mas a busca da terra para trabalhar é um direito que assiste a esta gente. Renovo os meus votos de sentimento à família enlutada e digo mais uma vez que não se justifica a violência que se abateu sobre a Cidade naquela quarta-feira. (Palmas.) Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. João Motta, que fala pela sua Bancada, o PT.

 

O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Poro Alegre, Prezados Vereadores, Oficiais, Cabos, Soldados. O Título um da atual Constituição Brasileira aprovada em 1988, art. 1º, diz o seguinte: (Lê.) No seu artigo 2º diz: (Lê.) Digo isso, Sr. Presidente, autoridades, para registrar e iniciar uma breve reflexão nesse momento de angústia e tristeza para todos nós, na medida em que quando tomamos conhecimento pela imprensa que o pacote agrícola definido pelo Governo Federal, a partir de agora restringe-se apenas à questão do financiamento do plantio e da comercialização da safra com a divulgação e liberação de recursos na ordem de 446,5 bilhões este ano.

Portanto, a questão agrária que merece toda a nossa atenção parece que vai permanecer, ainda, por muito tempo sendo excluída das preocupações do Governo Federal. Tudo isto numa situação de crise mundial, onde países capitalistas começam a fazer movimentos no sentido de equacionar a crise, adotando, também, os chamados planos de reajustes da economia. Foi assim na Itália, Espanha, Coréia e outros países, cuja semelhança com o Brasil se dá pelo processo tardio de industrialização, portanto, países que vivem ainda hoje dívidas sociais muito sérias e profundas, e que obtiveram por parte de seus governos este tipo de enfrentamento.

Portanto, inicialmente, gostaríamos de registrar que ao não vermos nenhuma medida ampla por parte do Governo, neste momento, continuamos a ficar preocupados e a trazer esta reflexão, na medida que os mais de 900 pontos de conflito no Brasil, em vários Estados, que dizem respeito à questão agrária, pelo jeito permanecerão por um bom período.

Portanto, isto traz para todos nós uma necessária reflexão sobre o papel que cada agente social e político, bem como também as instituições, inclusive as militares, devem cumprir neste processo muito limitado de transição democrática que atravessamos neste País no momento. E a questão da Segurança Pública também merece da nossa parte uma certa reflexão na medida que para nós, pelo menos, não há como conceber uma segurança pública sem que ela esteja fundamentada na garantia e na defesa dos exercícios dos direitos de cidadania, bem como uma visão de segurança pública informada pelo fim da tutela militar.

Gostaríamos de registrar, num segundo momento, que também estamos solidários com esta iniciativa do Ver. Wilson Santos, bem como da Câmara Municipal, porque entendemos que neste processo político, histórico e social que estamos vivendo no País, hoje, todas as instituições democráticas têm o dever e a obrigação de se manter abertas às inquietações e aos fatos que sensibilizam a sociedade. Portanto não só a Câmara, bem como a OAB, CNBB, Associação Brasileira de Imprensa e outras entidades têm-se manifestado nesse processo na medida em que há um compromisso e uma postura ética de todos no sentido de se garantir que esse processo avance de uma forma mais ampla possível e mais tranqüila possível.

Gostaríamos de registrar, finalmente, que por todas estas razões e por acharmos que a liberdade de organização dos Cabos e Soldados, Oficiais, bem como também uma justa remuneração, é também uma preocupação nossa e de todos nós, é que estamos lamentando também a morte do Soldado Valdeci de Abreu Lopes e somos também solidários aos seus familiares e amigos, neste momento.

A democracia que buscamos pressupõe a eliminação da burocracia apartada da sociedade, a instituição efetiva da igualdade de direitos e a existência de um estado de direito democrático, bem como também uma sociedade civil, plural e autônoma.

Portanto, ao encerrar, gostaria de registrar, na condição de Líder da Bancada do PT, nesta Câmara, que estamos solidários, mais uma vez afirmo isso, com familiares e amigos do soldado Valdeci. Lamentamos que esta divulgação do pacote agrícola do Governo Federal, de fato, não trate de uma forma mais incisiva a famosa e tão polêmica questão agrária que se avizinha por parte, enfim, da nossa avaliação, do nosso ponto de vista, dos chamados conflitos pela terra que infelizmente ainda não encontraram uma resposta à altura capaz de trazer a tranqüilidade necessária para que este processo de transição política e de convivência harmônica seja de fato garantido por todos nós, neste momento, onde estamos testemunhando vários processos acontecendo em vários países, independente de seus regimes políticos. Nós aqui gostaríamos de registrar que acima de tudo estamos comprometidos com a construção de uma nova humanidade onde o direito à vida, à liberdade e à democracia sejam de fato valores que transcendam às classes, às raças, ao clero, à religião e aos próprios partidos políticos. Muito obrigado. (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos, com prazer, a presença do Major Frota, representando, neste ato, o Chefe da Casa Militar.

Concedemos a palavra ao Ver. Dilamar Machado, que fala por sua Bancada, o PDT.

 

O SR. DILAMAR MACHADO: Exmo Sr. Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, também a nossa saudação ao Major Ludgero Frota, representando, neste ato, o Chefe da Casa Militar do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

A primeira observação que faço nesta Sessão em que o Vereador e Oficial da Brigada Militar, Wilson Santos, solicita para homenagear postumamente ao, hoje, Cabo Valdeci de Abreu Lopes, é que o que houve de mais trágico naquela quarta-feira, é que o instrumento que significa na vida do homem do campo o trabalho, a foice, que é utilizada pela mão grotesca, às vezes calejada, do colono para ceifar o trigo e do trigo fazer o pão, e do pão dar a vida, tem sido utilizada para, exatamente, ceifar uma vida e uma vida de imenso valor como a de qualquer ser humano. O Valdeci, Srs. Coronéis, Majores, Tenentes-Coronéis, Capitães, Sargentos, Tenentes, Cabos, Soldados da Brigada Militar, a vida do Valdeci não era a vida de um simples soldado da Brigada Militar, podia ser a vida de um homem simples mas, jamais alguém na história dos homens deu a exata medida do valor de uma vida; jamais alguém se atreveu dizer: minha vida vale tanto! É muito comum, na história dos povos, que homens muito poderosos, extremamente ricos, via de regra tiranos, exploradores do trabalho humano, na hora em que sentem a morte oferecem toda a sua fortuna pela manutenção da sua própria vida. E é muito comum, também pais desesperados com filhos, às vezes desenganados, correrem mundo, hospitais, médicos, curandeiros, bruxas, oferecendo tudo que tem, sua fortuna, seu ouro, às vezes até sua dignidade para salvar a vida de um ser que quer bem. Não há nada que devolva uma vida, nada pode dar o exato valor de uma vida humana.

É evidente, Coronel Stocker, que aqui representa a sua Corporação e a sua Brigada Militar, que nós não teríamos nem a indelicadeza, nem a ousadia, de nesta Sessão em que se faz a homenagem póstuma a um brigadiano morto no exercício do seu trabalho e do seu dever, misturando os fatos e querer analisar as causas que antecederam o fato. Prefiro, isso sim, me fixar na conseqüência, e a conseqüência é trágica, é fúnebre, é triste. E atrás dela deixa estampado no rosto dos seus colegas brigadianos a tristeza de mais um companheiro morto. E quantas são as circunstâncias! Em quantos momentos a Brigada Militar perde seus irmãos, seus amigos, seus oficiais, seus soldados?

Já se falou e é bom que se repita desta tribuna, que um soldado da Brigada Militar, quando deixa a sua casa, quando tem uma casa, porque é lamentável e é comum que a maioria dos soldados da Brigada Militar esteja residindo exatamente no local onde mora a delinqüência e a desordem urbana, porque seus vencimentos são escassos, são incapazes de sustentar uma moradia digna; mas quando ele deixa a sua casa, - e essa idéia não é minha, é do Comando da Brigada Militar - o soldado para dar segurança tem que ter segurança, ele tem que sair de casa seguro de que ele é um homem bem pago, bem remunerado pelo seu trabalho, que ele é um guardião da defesa pública, ele é um homem que vai expor muitas vezes a sua vida, para garantir a vida de pessoa que nem sequer conhece, da sua sociedade, dos seus irmãos, dos seus vizinhos e de seus concidadãos. Esse é um aspecto que preocupa a todos nós, particularmente o meu partido e, tenho certeza, a todos os Vereadores desta Casa. Que tenhamos em breve, através de uma nova visão de segurança, de relacionamento entre a Brigada e o povo de Porto Alegre e do Rio grande, o reaparelhamento material, humano especialmente de vencimentos dignos a todos os integrantes da Brigada Militar.

Eu diria, Vereadores, Srs. Oficiais da Brigada Militar, Praças da Brigada aqui presentes, ninguém mais vai devolver a vida de Valdeci. Sua esposa viúva, jovem, sua filhinha que nunca vai conhecer o pai, que nunca vai ter a alegria de uma criança de ver o pai, de amanhecer ao lado do pai, de dormir ao lado do pai e os seus colegas da Brigada Militar podem ter uma certeza, ninguém mais vai assassinar o cabo Valdecir de Abreu Lopes, mas também ninguém mais vai esquecer o cabo Valdecir. Ele vai perdurar na história desta Cidade, vivo, íntegro, martirizado, é verdade, mas será uma lembrança que, tenho absoluta convicção, pelo trágico de sua morte, pela circunstância de sua morte, será sempre como uma estrela, como um horizonte para seus colegas da Brigada Militar por que não é através do revanchisnio, não é através da vingança e sim através da convivência digna que Brigada Militar, integrada com o povo desta Cidade e com o povo deste Estado, ainda nos levarão juntos a ter uma vida mais alegre, mais participativa, fraterna em que nós, chefes-de-família com responsabilidade perante os nossos filhos e a nossa sociedade não tenhamos que vir numa tarde triste como esta, ao invés de estarmos aqui - homenageando a vida e a luta do brigadiano, lamentando de forma trágica a morte de um Soldado PM, hoje Cabo em promoção póstuma, mas como disse e repito, que continua vivo para Porto Alegre e tudo que se fizer pela sua memória será pouco, até como um exemplo a ser seguido nas próximas circunstâncias, nas próximas ocasiões em que o povo e a Brigada não podem, não devem se confrontar, isto sim, devem participar lado a lado, braços dados, mãos dadas, para que possamos juntos construir um Rio Grande melhor, um País melhor para todos nós. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Wilson Santos.

 

O SR. NILSON SANTOS: Sr. Presidente, Ver. Valdir Fraga, demais Oficiais, Praças da Brigada Militar, Representação Feminina da Brigada Militar, senhores e senhoras.

Hoje, treze dias são transcorridos da morte de um trabalhador, morte de um humilde trabalhador, operário da defesa da lei e da ordem. Desceu naquele dia sobre o povo de Porto Alegre, sobre a esposa, sobre a filha, sobre a família de Valdeci e sobre a família brigadiana um manto escuro, debuxado em tintas tétricas, o manto do luto.

A morte é o desfecho de qualquer um de nós enquanto mortais, mas o lamento lúgubre, funesto, é pela forma torpe, repugnante e nojenta de como aconteceu.

O pano de fundo era o jogo de cena dos indigentes espirituais, os que não possuem sequer o lenitivo de uma crença. Eles foram os verdadeiros arquitetos. Falou com muita propriedade o Ver. Lauro Hagemann, representante do PCB, “não são, e não representam um bando de facínoras”, e, evidentemente, concordo. Vivemos numa sociedade tremendamente injusta, grandes injustiças, ausência de uma maior consciência cristã. Vemos, muitas vezes, imperar o egoísmo, a ganância, vemos neste imenso País terras improdutivas, monopólio, oligopólios, e todo o movimento popular organizado, que vise buscar maior justiça na distribuição de renda, no acesso à terra, num País com tamanha perspectiva agrícola, entendo justo, e até prego uma revolução permanente, mas pacifica, sem derramamento de sangue, que tenha como fim, como meta, modificar essa estrutura algoz, cruel, quer na política, insensibilidade do poder governamental, na estrutura econômica, social, mas terá sempre o apoio pessoal, e da força que eu conseguir representar, um movimento sadio, distante da violência. Por isso, filtrados e depurados desses de má índole, têm total apoio o movimento dos sem-terra. O que quero veementemente censurar são os métodos ignóbeis, vis dos arquitetos, não sei a quem pertencem, alguns orquestradores, alguns maestros do caos. Eles usam um dom original que Deus nos deu, o da inteligência, o do poder, a capacidade de convencer, mas usam quem sabe para fins desonestos, porque me parece que estes orquestradores, os mestres, travestiram a partitura de falsas notas de bem e foram buscar os executores e aqueles pobres inocentes úteis, sem saber que notas executavam bem, estavam empurrados para executar uma melodia sangrenta. Queriam eles, quem sabe, fabricar uma morte, quem sabe uma mulher, uma criança? Seria, talvez, o ápice do ideal doentio destas mentes torpes. Atingir um fim por qualquer meio, é o que eu repudio. Falsos profetas, falsos líderes. Eu gostaria de ver como a sociedade encara, julga e, talvez, até condenem aqueles que manipulam os seus semelhantes, que os exploram em favor próprio. O que se diz daqueles que aproveitam o submundo em que cai uma prostituta e aquele que utiliza ardilosamente da inteligência para organizar a viração, para administrar a prostituição e se locupletar para trazer benefício próprio é o mais desprezível dos gigolôs. A mim, como ser pensante, longe de analisar acadêmica e com perfeição o episódio, eu pergunto, não serão velhacos, não serão patifes aqueles que se locupletam, que se aproveitam da miséria humana, da pobreza de um contingente de pessoas em dificuldades? Não seria mais lícito que estes covardes fossem transformados em verdadeiros líderes e que usassem as tribunas para defender uma reforma agrária verdadeira. Não. Eles se escondem atrás da sua covardia e colocam a pobreza e a miséria à frente de seu serviço. É isto que eu contesto. Valdeci morreu. Nós refletimos. Oradores que me antecederam falaram com propriedade também que nós temos que edificar uma democracia sólida. Devemos edificar não só para nós, mas para a geração vindoura, porém este trágico acontecimento deve servir de reflexão para vermos de que forma vamos construir uma democracia. Não com selvageria. Valdeci de Abreu Lopes deixou a Sonia de Oliveira Lopes, sua esposa, e a filha Carina de apenas 9 meses, ele trabalhava e deu a morte e deu a vida pela segurança pública. E aqui outros oradores falaram e é bom que se frise: quem sabe não é chegado o momento de reverter um quadro? A oração da Serenidade diz que nós devemos ter esta serenidade para aceitar as coisas que não podemos mudar. Diz a Oração da Serenidade que além da serenidade para aceitar o que não podemos mudar, nós temos que ter a coragem para mudar o que pode ser mudado. E devemos ter, sobretudo, a sabedoria para distinguir o que se pode e o que não se pode. Modificar a segurança pública, vilipendiada, não pelo atual Governador Sinval Guazzelli em absoluto, vilipendiada pelo transcorrer dos anos pela insensibilidade da organização estatal que está distante de colocar segurança pública como prioridade da sua gente e do seu povo. Ela foi desprezada pela organização estatal e quem sabe não é o grande momento em que se deixa uma viúva e uma filha de alguém que tinha um salário tão indigno, de aproximadamente Cr$20.000,00. Alguns Estados já entenderam que podem mudar. Só para estabelecer um paralelo: o mesmo soldado, com a mesma missão em Santa Catarina ganha mais de 40 mil cruzeiros. De forma que, se aqui estivesse o Sr. Governador do Estado eu gostaria que ele ouvisse, mas pediria ao Major Frota, ao Major que representa o chefe da Casa Militar a até ao Comandante Geral, que sei luta permanentemente por uma valoração maior da corporação, que peça ao Governador, neste momento de luta e de luto, que pense nesta página tão triste, de salário tão indigno para quem se vai e deixa uma família. Eu quero por derradeiro dizer que o Dilamar Machado, sem evidentemente ler o roteiro que fiz, até por que não é um pronunciamento escrito, são algumas linhas, eu colocava que a foice foi usada para ceifar uma vida humana e eu dizia que deixe as lanças adormecidas e quietas e que façamos uma verdadeira guerra de doutrinas e que venhamos a nos impor e não trazer colonos para uma praça vedada para acampamentos, porque autoridade responsável pela ordem da Cidade já tinha estabelecido que o local de acampamento era o parque da Harmonia. Que insuflou afrontou a autoridade, quem manipulou não trouxe mensagem de paz, trouxe pedras, armas e foice. A foice não seria arma, seria instrumento de trabalho no campo. Aqui foi uma arma sangrenta que ceifou a vida de um ser humano. O PDS de boa inspiração propõe um monumento com contorno vazio para ser erigido na esquina democrática. É uma homenagem válida, todas e tantas que se façam serão sempre válidas, estarão sempre aquém do soldado desaparecido. Eu quero para finalizar citar, do livro dos livros, se entenderem que é uma doutrinação, se entenderem que é uma evangelização, que seja, porque usarei sempre a minha palavra, posso errar, quanto ser humano imperfeito sou, mas estarei perseguindo sempre o aperfeiçoamento. E eu quero mencionar São Marco, Capítulo 12, Versículos 41 a 44, e São Lucas, Capítulo 21, Versículos 01 a 04, o Óbolo da Viúva: “Estando Jesus sentado defronte do gasofilásio, a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, e o que muitos ricos deitavam em abundância, nisso veio também uma pobre mulher, que deitou apenas duas pequenas moedas no valor de 10 centavos, cada uma, chamando então seus discípulos disse-lhes Jesus: ‘Em verdade vos digo, que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram. E puseram suas dádivas no gasofilásio; Porque todos os outros deram do que lhes abundava, ao passo que esta deu do que lhe faz falta, tudo que tinha para o seu sustento”. Pois Sônia e Carolina, deram esse óbolo, para que nós na memória de Valdeci, possamos pensar na democracia que queremos. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Concedemos a palavra ao PM Carlos Walter Stocker, Comandante Geral da BM do Rio Grande do Sul.

 

O SR. CARLOS WALTER STOCKER: Exmo Sr. Ver. Valdir Fraga, digníssimo Presidente da Casa do Povo, Exmo Sr. Ver. Lauro Hagemann, Srs. Vereadores, meus companheiros da BM, neste momento o Comandante desta Sesquicentenária Corporação tem apenas que agradecer em meu nome próprio e em nome de toda essa corporação que eu represento e pelos nossos companheiros da BM que estão presentes em corpo nesta Casa e em espírito em todo o Estado do Rio Grande do Sul recebendo estas dignas homenagens da Câmara de Vereadores, póstumas ao nosso Cabo Valdeci. Cabo Valdeci que em vida fazia trabalhos de jardinagem para melhorar o seu salário e sustentar a sua família, plantava flores e eu tenho certeza que certamente hoje no paraíso está continuando a plantar as flores. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE:  Vamos encerrando a Sessão de homenagem póstuma ao Soldado Valdeci. O nosso abraço a todos e os nossos sentimentos do Legislativo Municipal. Estão levantados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 15h22min.)

 

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